segunda-feira, 24 de março de 2008

Carta ao Cão

Sinto-me miseravelmente triste. Parece que o meu cão está cada vez mais doente. Nunca perdi um familiar próximo, mas acredito que a dor que venha a sentir seja idêntica à que sinto agora. Não faz sentido distinguir ser humano de animal. Ele foi desde sempre integrado como o membro mais novo da família, sim, quase um irmão de quatro patas que agita a cauda enquanto corre, livre, atrás dos pássaros que nunca chega a apanhar. Agora, ele já não consegue correr assim. Passo eu mais tempo a correr até à sala, só para ter a certeza que ainda respira. Um fôlego apagado, como a luz de uma vela gasta. Sim, é terrível ver alguém a sofrer assim... É nestes momentos que as memórias felizes, mas agora, dolorosas, surgem umas atrás das outras: de uma minúscula bola peluda a emitir um rosnar de dar vontade de rir, uma queda fabulosa no chão encerado... Nunca foi dotado de grande inteligência, mas sem dúvida que a vida até ao momento foi feliz, assim como tornou mais feliz a vida dos que o rodeavam.

Joana Cachapa

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