quarta-feira, 30 de abril de 2008

"Peixe para Eulália"

Toc Toc!

-Feliz "desaniversário"! - disse uma voz por detrás da porta entreaberta.

-Hum?! Quem está aí?

Eulália deslocou-se até à porta e apenas viu, no chão, um pequeno saco de plástico transparente cheio de água e um peixito dourado lá dentro.

-Quem deixou este peixe aqui?

-Ninguém... Fui eu que fugi da loja de animais que há do outro lado da rua.

-Ah!!!!! O pppppeixxeeee falou!!

-Sim, sim, mas que admiração... Vocês humanos devem imaginar que são únicos na Terra... Vá, tira-me deste saco e põe-me dentro de alguma coisa .

Eulália, ainda em choque, vai buscar um alguidar para pôr o peixe.

-Então, és tu que és a Eulália. Lá na loja todos ouvimos falar muito de ti. És tu que participas em actividades a favor dos direitos dos animais, não é?

Eulália "assenta" com a cabeça.

-Pois, isso parece-me maravilhoso. Então, posso estar seguro de que vais tomar bem conta de mim, certo?

Silêncio...

-Vou tomar isso com um sim. E o que tens cá por casa que se coma? Aposto que nesse armário aí em cima tens um frasquinho de plâncton.

(...)

Joana Cachapa

terça-feira, 22 de abril de 2008

Entrada no Céu

Joana e Mónica tinham partido já tarde, por volta das dezoito horas, mas como era Inverno a noite caiu muito rapidamente. Mesmo assim elas nem notaram, estavam tão entusiasmadas com as suas férias que tudo parecia perfeito, as duas num apartamento em plena Lisboa, isso sim.
De repente começou a chover, a chover intensamente, e pouco ou nada se via da estrada.
Mónica, que ia a conduzir, sentiu-se atrapalhada e decidiu parar um pouco, mas Joana insistiu muito para que não parassem pois queria chegar depressa, e com tanta insistência acabaram por continuar.
Viram umas luzes, um pouco desfocadas devido à chuva, que se aproximavam cada vez mais.
No meio de gritos e pancadas por fim veio o silêncio. Da cara ensanguentada de Mónica caíram duas lágrimas e os seus olhos fecharam-se. Olharam para uma luz linda e brilhante, muito diferente das outras, e que transmitia muita paz.
Mónica lembrou-se da sua mãe e chorou de saudades, e disse:_ Anda Joana, é a entrada do céu.
Mas Joana, com tanto sentimento de culpa por não ter deixado parar o carro, não conseguiu entrar e viu a amiga partir, para um sítio melhor. Poucas horas depois acordou no hospital, mas nunca mais foi a mesma.
Em homenagem à sua amiga, Joana escreveu um livro com o título "Entrada no Céu".

(Soraia Pereira)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Na Tal Noite

Ela estava na varanda a olhar para o céu estrelado. Desde a morte da sua mãe, havia dois anos, que ia para lá todas as noites, pois as estrelas traziam-lhe recordações dela. De repente, uma das estrelas começou a brilhar mais intensamente e à sua frente apareceram pontinhos brilhantes, que logo começaram a formar uma imagem, a imagem da sua mãe. Não... não era uma imagem ...era o fantasma da sua mãe...
- Minha querida, eu estarei sempre contigo a partir de agora e só tu me poderás ver. - Disse-lhe o fantasma da mãe.
- O quê?! Eu devo estar a sonhar! Isto não pode ser real...
-Não te assustes! Esta é a única maneira de comunicarmos, através dos teus sonhos.
- Mas se são sonhos então não é real, certo?
- Não. Eu estou mesmo a falar contigo, mas através de um sonho.
- Uau! Eu nem sabia que isso era possível!
- É possível, mas também é raro. A partir de hoje falarei contigo todas as noites. Agora tenho de ir, mas volto amanhã.
- Adeus!
Da mesma forma que aparecera, o fantasma da sua mãe voltou a desaparecer.
Quando acordou, pensou que tudo aquilo era um simples sonho, mas na noite seguinte a mãe voltou a parecer, e nas que se lhe seguiram também. Então, ela percebeu que não era um simples sonho - tal como a mãe lhe havia dito, era uma forma de comunicarem.

(Lénia Candeias)

domingo, 13 de abril de 2008

Mana Celulina, a Esferográvida

Numa pequena aldeia, mesmo no meio do baixo estava uma jovem sozinha sentada no passeio. Todos os dias era o mesmo, estava sempre sozinha; seu nome era Célia, mas todos lhe chamavam "Mana Celulina, a esfera", pois ela era um pouco gordinha, e todos se afastavam.
Certo dia, lá estava ela sozinha, como todos os outros dias, quando um carro se aproxima e um senhor muito simpático a convida para um passeio. Ela lá entrou, e no carro foi tratada como uma princesa.
Quando chegou a um local muito bonito e simpático, o homem saiu do carro e começou a tornar-se violento, e a pobre rapariga foi violada. Aterrorizada gritou, mas ninguém a ouviu.
Pouco tempo depois Célia desmaiou, e ao acordar estava de volta à mesma rua, ao mesmo passeio de sempre, mas ainda sentia o cheiro daquele homem horrível.
Um mês depois descobriu que estava grávida. A sua vida desmoronou-se, tudo ficou pior do que já era; estar grávida aos 15 anos era a pior coisa que lhe podia acontecer.
Quando todos os seus colegas descobriram, em vez de a tentarem ajudar, ainda gozaram mais com ela; o seu nome passou a ser “Mana Celulina, a esferográvida”. A sua vida não voltou a ser a mesma, pois todos a desprezavam ainda mais do que antes.

Andreia Matos