terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Distúrbio I


Assim é a vida,
Carregada de confusão,
Arrumada em prateleiras inexistentes…
Imaginadas…

Ideias dispersas,
Promessas por cumprir e… esquecidas…
Verdades e mentiras que se baralham,
Certezas e incertezas certamente incertas

Assim é a vida…
Como uma estante imaginada,
La Biblioteque en Feu, Vieira da Silva
Uma imaginação que se confunde com a realidade…

Assim é… A vida…
Muitas vezes baralhando as emoções com bens materiais,
Um misto de falsidade e ignorância e imaginação… fértil…
Cadeiras que são membros, livros que são cérebros, escadas que são…
Ossos, talvez… divisórias quebradas…

Divisórias quebradas,
Que unem a verdade à mentira,
A realidade à ficção,
E é nesta “biblioteca infernal”
Que mesmo não sendo por mal,

Vivemos nesta enorme confusão...



A pintura de Vieira da Silva, La Biblioteque en Feu, é um misto de sensações; desperta em quem a vê, a curiosidade de tentar perceber mais e mais sobre ela…
É nesta enorme confusão, formada por divisórias, prateleiras, livros, vida inexistentes que o publico se perde, tentando perceber o que realmente significa, tentando aperceber-se da mensagem que o quadro tenta transmitir, e toda esta é tão simples…
A nossa vida é uma enorme confusão, feita de verdades e mentiras, de ilusões e desilusões, de imaginação e realidade… É nesta enorme confusão que vivemos, todos os dias tentando perceber o verdadeiro significado da nossa existência, não sobrando tempo para conseguirmos perceber uma obra de arte como esta…
Daí a qualidade do quadro, não vale a pena tentar perceber… Tal como a vida… Deve ser vivido e admirado…
Vivemos nesta enorme confusão…

João Pedro Rocha; 12º D

sábado, 19 de fevereiro de 2011

As Meninas

Paula Rego ;The Vivian Girls as Windmills, 1984


Este quadro é de Paula Rego uma pintora portuguesa que nos últimos tempos tem vindo a ser reconhecida por todos nós. Penso que este reconhecimento é bastante importante para o nosso país, porque a arte, no nosso país, devia ser mais valorizada tendo em conta que temos grandes artistas tão pouco valorizados muito embora estes pudessem enriquecer mais Portugal.
A razão pela qual escolhi um quadro de Paula Rego para dele falar foi o facto dos quadros da autora serem um pouco infantis à primeira vista e, ao mesmo tempo, retratarem a sua realidade.
Ora, neste quadro, a autora queria nos dar a ideia de desassossego, pois as meninas fazem estragos, contrariando a forma como se deveriam comportar… quebrando, com prazer e maldosamente, a melhor loiça da mãe.
Creio que o medo, os fantasmas e a agitação que se vive nos quadros deste período tenham sido uma preferência da autora, pois estas sensações estão marcadas em todos os seus quadros ao longo de um período da sua vida.

Ana Margarida Martins; 12ºC

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Separação

Helena Almeida, Separação, 1976

Olho para a fotografia de Helena Almeida e consegui identificar logo o grão perfeito que só a fotografia analógica tem. Toda a fotografia a filme tem uma essência inexplicável, boas tonalidades e, acima de tudo, muito trabalho por parte do fotógrafo. Com a evolução (para pior) da fotografia, já não há bons fotógrafos como havia antigamente. O grande Henri Cartier-Bresson foi um exemplo de um bom fotógrafo pois as suas fotografias tinham sentimento e originalidade. Agora, com a evolução do analógico para o digital, toda a essência original da fotografia e de fotografar acabou! Esta já não revoluciona as Artes Visuais como revolucionou na primeira metade do século XIX e já não há a surpresa e curiosidade de acabar um rolo e de o revelar com vários processos diferentes para sabermos se o nosso trabalho ficou ou não como queríamos. E é isso que me faz ficar triste e a pensar.


Com as máquinas digitais ultra-compactas e ultra-baratas, a fotografia passou a ser banal, não tem qualquer significado. Qualquer indivíduo com uma máquina tira uma fotografia, manipula-a e pensa que fez um bom trabalho mas, na verdade, não passa de uma imitação de qualquer fotografia que já viu e, ao estar excessivamente manipulada, a fotografia distancia-se muito da versão original e volta a não significar absolutamente NADA!


Vou continuar a fotografar em analógico, a estragar filmes e a tentar de novo, a gastar dinheiro para fotografias em papel e não as deixar ficar no computador para algum dia se perderem.


Ao fotografar em analógico, sinto-me a evoluir e não a regredir como os dependentes do digital…


Manuel Gamito; 12º D






Anjo

Helena Almeida, Tela Habitada 1977

Sempre o mesmo local, sempre à mesma hora, sempre a mesma visão. Um anjo? Não o sei. Talvez fosse apenas um espectro de luz. Fosse o que fosse, gostava de a observar…
Pura, por ali deambulava, frágil, tão frágil, que sempre imaginei que se lhe tocasse, desfazer-se-ia em mil borboletas, alvas como ela. Deambulava e cumprimentava as nuvens e sorria ao vento, e à chuva, quando a havia, falava com doçura.
Nunca soube quem ela era, alguns diziam-na louca, outros que era uma criança aprisionada num corpo de mulher, talvez. Mas, para mim, ela era simplesmente sonhadora, uma alma refém do seu próprio mundo; incompreendida pelos demais; o reflexo da perfeição. E ela lá estava, dia após dia, e eu, sentado num banco, observava-a, estudando todos os seus movimentos, desenhando todos os traços do seu rosto na minha mente, onde, sem me aperceber, ficariam gravados para sempre.
Nunca soube, e ainda agora não sei dizer que emoção me tomava quando a via, e mesmo que tentasse não conseguiria defini-la, mas nesses momentos sentia-me bem. E essa sensação esteve presente na minha vida ao longo de vários anos. Todos os dias, me dirigia àquele lugar mágico, onde a magia tinha forma humana.
Até que um dia, ela não apareceu.
Esperei minutos, horas… nada. Voltei no dia seguinte, e no outro e no outro, mas dela nem sinal. Não perdia, porém, a esperança de tornar a vê-la; tentei procurá-la, mas não sabia onde ou como. Perguntei, então, a amigos e conhecidos se sabiam do seu paradeiro.
Vim a saber uma semana mais tarde que o meu anjo subira ao Céu.

Margarida Andrade; 12º D

sábado, 12 de fevereiro de 2011


Amadeo de Souza-Cardoso é um pintor modernista. Foi ele, um dos principais nomes, a trazer para Portugal este tipo de arte.
A entrada da pintura modernista em Portugal não teve grande sucesso, chegando mesmo a ser criticada e ridicularizada, pois este tipo de arte veio mostrar, ao mundo, uma pintura de um grande erotismo e naturalidade.
Como tal, as obras deste pintor caracterizam-se muito pelo cubismo e pelo expressionismo. Ele apresenta bastantes paisagens exóticas, com desenhos cubistas que transmitem algum mistério e, por outro lado, alguma emoção.
Esta obra, a meu ver, simboliza, tanto pelo seu nome, como pelo tipo de pintura que é, a entrada do modernismo em Portugal, pois Amadeo de Souza-Cardoso acumulou só nesta obra muitos dos elementos da arte moderna. Acumula assim, elementos geométricos, com linhas encurvadas e muito coloridas que traduzem o cubismo e que nos conduzem a uma acção bastante dinâmica. Apresenta também, nesta obra a palavra “entrada”, instrumentos musicais e instrumentos eléctricos, pois é daí que concluo que o pintor tentou, com esta obra, introduzir e mostrar ao mundo o que era a arte moderna. Apresenta elementos estranhos e pouco usuais na arte, desse tempo… É, sem dúvida, um modernista.
Ana Silva; 12º C

Olha e Sente!

La Biblioteque en Feu, Vieira da Silva
Olha !
Olhaste? Viste bem ? Que viste?
Um monte de quadrados e riscos parecendo nada, não é?
Mas esse teu nada é tanto…
La bibliothèque en feu.
Mas isto não parece muito uma biblioteca, nem sei o que parece.
Aproximo-me…
Vejo livros, um vão de escadas, datas, pequenos quadrados parecendo divisões de uma casa…e as cores, lindas cores! Não sei nomeá-las… quanto mais pormenores tento ver menos vejo, tudo me foge ao pestanejar, tudo me foge ao respirar.
É tão lindo. Sei que é. Não sei o que é, mas sei que é lindo. Olhar e nada ver. Não ver, mas sentir! E sentir é o mais importante. Sinto a brisa fresca do Outono a cumprimentar a minha cara a folha de uma árvore a segurar na minha mão, e até o quente do Verão a aquecer o meu corpo… Sentir é o mais importante. Sentir!


Débora Paulino; 12º D
Fernando Pessoa , por Almada Negreiros
Observo atentamente o retrato de Fernando Pessoa, um ser angustiado que se desdobrou nos heterónimos, retratando os outros "eus" escondidos. Seria louco? Não! Foi um homem corajoso ao mostrar que, numa vida, se podem viver várias e todas elas de maneiras diferentes.
Morreu ainda cedo mas viveu intensamente, sofregamente. Mas viveu! E passou para o papel tudo aquilo que sentia, com a noção de que não era um ser apenas… era também Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Bernardo Soares, entre muitos outros. E todos eles eram um só: Fernando Pessoa… que sempre assumiu viver cercado de um mundo fictício. Talvez fosse mais fácil viver assim, acompanhado de seres fictícios. Seria uma melhor forma de encarar a solidão que habita a alma dos poetas, a inquietação que os leva ao desespero… Pergunto eu: não seremos todos nós um pouco assim? Acredito que sim, mas… temos vergonha de reconhecer que nos sentimos inquietos e que escrevemos o que nos vai na alma. Seria vergonhoso admitir perante todos os que nos rodeiam que escrevemos lamechices…
Ninguém se pode comparar a Pessoa mas que escrevemos lamechices e nos sentimos bem, lá isso é verdade! Quer queiramos, quer não… temos sentimentos. Sentimos ira, revolta, inquietação, angústia, medo, amor… Contudo, ninguém assume o que sente. Talvez seja por estarmos mais preocupados com a parte exterior do que com os nossos sentimentos.
Fernando Pessoa inspira-me e faz mostrar o melhor que há em mim, no meu “eu” interior. Basta-me olhar para esta imagem: uma inquietação calma, um olhar saudosista de ser: “ o menino da sua mãe”.

Maria Granado; 12ºD

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Arte de Sentir

Amadeo de Souza-Cardoso

Já repararam que a arte pode ser uma simples gargalhada? Mas… como é que se transmite isso para uma tela? Como é que se transmite essa sensação, esse ruído, esse sentimento? Será possível?
Muitas das vezes, os artistas confrontam-se com estas e outras questões. Imaginam, reflectem. Por vezes, o difícil é fazer com que o observador, desvende o verdadeiro mistério de um quadro. É certo que cada pessoa, tem uma maneira de o ver, uma maneira de o interpretar. Ora, saber ver e pensar, a meu ver, já é arte! Arte não é apenas ser profissional a desenhar, não é ser um excelente pintor. Arte é saber transmitir sentimentos e emoções, é ter ideias e saber partilhar de forma correcta essas ideias. Numa tela…
O quadro do qual eu vou falar, é do pintor Amadeu de Souza-Cardoso que foi um pintor português percursor da Arte Moderna.
Olhei para o quadro dele, e a primeira reacção que tive foi a de um simples sorriso. E porquê? Não sei! O plano principal que eu observo neste quadro é o de um violino, que me leva até à música. Logo, a música faz parte de mim, faz-me pensar em bons momentos.
Como planos secundários vejo, no meio de tanta confusão, um morango. O que é que terá pensado este artista para pintar, ali, aquele singelo morango?! Nem ele próprio talvez o saiba! Fui um impulso. Foi uma cor que ele quis introduzir… E uma quarta e uma mulher?
Só pelo facto de este pintor me ter feito pensar sobre o que poderia transmitir este quadro, já me aconteceu Arte! Pois, num variado conjunto de cores, linhas, formas, interrogações, abstraccionismo, expressões, está lá representada Arte. A arte que eu também vivi.
Afinal de contas o que é Arte? Muito sucintamente… É o que cada um de nós quiser! Basta saber sentir.
Ana Trindade; 12º D

Orquestra com morango

Amadeo de Souza-Cardoso

Ontem, dia do meu 18º aniversário, entrei numa grande aventura para me despedir da minha infância, não perdida, mas finalmente terminada. Sim, agora sou adulta, sou livre e farei tudo o que me apetecer. E foi este pensamento que me levou até Paris, a grande cidade-luz, para ver um concerto de música clássica de que nunca pensei vir a gostar.
Tudo começou com provocações por parte do meu progenitor, que eu,” sua filha, era uma rebelde, uma ignorante sem cultura, sem noção das coisas do mundo”, aquele mundo que o envolve mas não me envolve a mim, nem é o meu. Certo é que me meti num comboio, rodeada de pessoas estranhas, acompanhada pelos meus botões e, claro, por uma grande amiga, pois não me aventuraria sozinha, não me atrevia a tanto. É que eu também sinto aquele sintoma horrível da adrenalina e do desafio, o medo, como uma pessoa completamente normal que não sou.
O concerto teve a duração exacta de duas incríveis horas. Para mim, tudo aquilo foi estranho. Digo-te que gostei e nem sei por que raio me atrevo a dizer-te que gostei de tal coisa, mas de facto gostei, talvez por ser diferente, talvez por saber que, afinal estou à altura dos desafios do meu pai e que sou muito melhor do que ele pensa. Não sei! Mas sei bem do que sou capaz e agora sinto-me orgulhosa de mim própria. Assim que acabar esta viagem cansativa de regresso, assim que sair desta caixa que desliza numa espécie de corrimão terrestre, não hesitarei em mostrar-lhe as provas e os testemunhos da minha aventura. Tenho a certeza que o meu pai ficará de certa forma orgulhoso de mim e mudará a sua opinião. Então, ver-me-á finalmente como a sua filha adulta e culta. Uma mulher de dezoito anos que até gosta de música clássica, de morangos bem maduros a assomar por entre a orquestra.



Catarina Sabino; 12º C

Caos e Amor

Amadeo de Souza-Cardoso
A multiplicidade de cores, de padrões e de fragmentos de imagens deixa-me baralhada. Faz-me sentir dividida, faz-me prestar atenção e captar o mais ínfimo dos pormenores, estimulando a minha mente para a beleza desta perfeita confusão. Talvez sim, talvez não, que tenha sido por tudo isto, esta a tela, a que mais me marcou.
Amadeo Souza-Cardoso, sendo um pintor expressionista, pinta de acordo com as suas emoções e sensações, das quais, tenho a certeza, muitas delas representam alegria, expressas por todos os elementos ligados ao amor. Há alegria devido ao uso excessivo de cores fortes. Contudo, outras representam revolta, por este pintor ter sido um ser incompreendido, gerando, então, o abstracto e a confusão.
Ao observar esta obra deparei-me com o facto de ter de repartir o meu olhar e a minha atenção por todos os cantos do quadro, pois todos eles me transmitiam múltiplas sensações. Consegui até rever, nesta confusão, a confusão das emoções da minha vida; toda ela expressa neste conjunto de cores e formas. Vejo o amor, expresso nas flores ao centro da obra, o amor proibido, expresso pelas diferentes partes de um corpo feminino. A desordem, expressa nas inúmeras cores utilizadas. Vejo, agora, a mais forte de todas as mensagens: aquela que é transmitida pelos espelhos, a verdadeira introspecção; o olharmos para dentro de nós mesmos, até no meio do caos e da confusão.
Na junção de todos estes pequenos fragmentos, Amadeo de Souza-Cardoso, dá a cada um de nós a liberdade de absorver desta obra a interpretação que mais nos estimule. Sinto-me, assim, livre no caos e no amor!
Beatriz Lourenço; 12ºC

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

História em redor de um quadro


Certo dia, em pleno século XX, decidi passar uma tarde sentado num café e apenas observar. Na universidade, inscrevi-me na cadeira de História. Estava a estudar a arte e cultura e, por isso, segui o conselho do professor para que observássemos a nossa sociedade.
Sentei-me a um canto e observei. Numa mesa, uma mulher escrevia e escrevia sem parar e, o que despertou o bichinho curioso que há em mim. Contudo, resisti em perguntar-lhe o que escrevia e continuei a observá-la.
Ao lado, estava um casal, na casa dos 45, 50 anos; estes discutiam literatura e falavam de uma revista “Orpheu” que um homem um pouco mais atrás lia sem levantar os olhos do papel. Questionei-me sobre o que trataria essa revista de que já tinha ouvido falar, mas nunca a li. Fiquei curioso.
Ao lado direito desse homem, estava outro senhor, de bigode e bem arranjado. Este escrevia, tal como a mulher que estava à minha frente. Pensei, “mas que raios, todos escrevem e lêem neste sítio?!” Mantive-me no meu lugar e volvi o olhar para a mesa do lado. Aí, encontrava-se uma mulher que incontroladamente fitava o homem sentado à sua frente com a mulher. Estes trocavam olhares sem que a mulher se apercebesse. Fiquei em choque.
Ao fundo, via dois homens sentados a fumar e a discutir. Economia e literatura eram os assuntos daquela mesa, até que um deles, exaltado, diz alto: ”Oh, Fernando!” O café parou, todos olharam para eles que rapidamente se desculparam.
Atrás de uma coluna, uma mulher espreitava. Tentando perceber para onde ela olhava, reparei que estava de olhos fitados na mesa dos dois homens que há pouco discutiam. Seria amante, mulher, curiosa?
Enfim, conclui que aquele sítio era um pouco estranho. As conversas eram sobre o mesmo, o passatempo era para todos o mesmo...
Falei com o meu professor e quando lhe descrevi o sítio ele riu-se e disse-me:
- Pois, esse café é um género de ponto de encontro entre todos os que estão ligados à arte e à literatura. Muito provavelmente esse Fernando que ouviste chamar era o Fernando Pessoa! Talvez o Almada Negreiro estivesse com ele ou até mesmo a sua namorada, a Ofélia Queiroz, quem sabe?
Não quis acreditar. Estive tão perto de todos os artistas mais revolucionários e conhecidos da época e contive a minha curiosidade. Não quis acreditar!


Mariana Carvalho; 12ºD
Helena Almeida

No outro dia de que já nem recordo a data, estive presente numa visita de estudo a Lisboa. De tarde, fomos ao Museu de Arte Moderna e visto que tinha de escolher uma obra e dizer o que sinto ao vê-la, escolhi uma da Helena Almeida. Porquê? Tal como eu disse quando a nossa guia questionou o que é a arte? A arte, actualmente, é ser diferente…
A Helena é diferente, vê a arte onde ela “não existe”, porque arte é tudo aquilo que nós queiramos que seja transformado em arte, temos é de ser artistas e saber imaginar. Bem, que confusa! A verdade é que nem todos conseguimos tal proeza. Helena Almeida consegue-a. Ora vejamos: uma sequência de fotografias em que aparece, primeiro, uma tela, logo a seguir uma pessoa (a própria artista) até chegar à altura em que a pessoa ultrapassa a tela! Mas isso é possível? Isto é arte? A verdade é que nunca ninguém se lembrou de o fazer. Se calhar tinham receio que não fosse considerado arte. Mas, talvez seja este mesmo o motivo pelo qual o que aqui se observa é arte.
Agora pergunto a mim mesmo, afinal o que é a arte?
Quando discutíamos este assunto, ao ver este quadro, estive quase para deitar-me no chão e dizer: isto é arte! Porque nenhum de vocês é capaz de o fazer.
Somos todos uns artistas, apenas não acreditamos naquilo que somos capazes.
Este texto é arte porque no meio de tantas palavras, não digo nada e isso nem todos conseguem... Sou também um artista, um imaginativo…

Tiago Raposo; 12º D

O Vazio


Helena Almeida, Tela Habitada 1977

Estranho... À pergunta lançada pela guia “isto é...” respondemos “arte!”.
Dei por mim a pensar que arte é esta, em que a pintora faz um auto-retrato transportando uma tela em branco?
Várias são as hipóteses:
- Endoideceu...
- Considera o seu trabalho vazio...
- Está perdida...
- Reflecte sobre o seu trabalho...
- Não tem nada em que pensar, ou então pensa no nada.
O nome da tela “Tela Habitada” pouco acrescentava aos meus pensamentos, mas a informação complementar ajudou.
Esta tela, da década de 70, integra as séries “pinturas e desenhos habitados” nas quais, a artista revela uma profunda meditação sobre si e o seu trabalho, nas quais representa e utiliza o seu próprio corpo numa sequência de imagens em que simula romper a tela e, ainda que aparentemente consiga, percebe-se que o seu objectivo não é alcançado surgindo, esta tela, como recomeço de um ciclo infindável.
E, por vezes, sinto-me assim... como a Helena Almeida se auto-retrata na sua arte... numa tela em branco, ainda por me definir.

Joana Perfeito; 12ºD

Modernismo

Amadeo Souza-Cardoso

O Modernismo, à sua nascença foi muito criticado, não só na pintura, mas também na literatura e noutras artes. Somente com o passar do tempo é que as pessoas aceitaram e perceberam aquilo que realmente era transmitido através desses quadros futuristas da arte moderna, cheios de imagens abstractas e formas inexistentes nos antigos trabalhos artísticos.
As pessoas estavam habituadas a ver quadros que relatavam a realidade, aquilo que os olhos alcançavam, não aquilo que a nova arte relatava: sentimentos ocultos, confusão, desequilíbrio e outras sensações.
O Modernismo, como todos nós sabemos, é quase o oposto daquilo que a arte clássica era. Na pintura, desde do aparecimento da máquina fotográfica, os pintores deixaram de mostrar a realidade devido ao motivo de uma simples máquina o fazer na perfeição.
Por isso, os pintores do Modernismo, para além de pintarem aquilo que os olhos vêm, começaram a pintar “sentimentos sobre tela”, pintar aquilo que imaginavam, aquilo que sentiam e até aquilo que sonhavam.
Como podemos ver, no quadro que está na imagem, para as pessoas dessa altura era impossível perceber o sentido do quadro, e como é de esperar, criticavam e achavam-no um absurdo. Mas com o passar do tempo, as pessoas começaram a tentar perceber aquilo que realmente o pintor queria pintar ou talvez transmitir.
O quadro não relata nada que se possa ver no dia-a-dia, na rua ou no café, porque é muito mais que uma simples imagem ou fotografia; é preciso saber interpretar e intelectualizar aquilo que é visto.
Este quadro à primeira vista, não parece ser mais do que uma tela cheia de cor e sem regularidade nenhuma, “falta as leis da natureza”. Mas, ao procurar no quadro, podemos ver pedaços de “realidade” fragmentados e numa ordem irregular, que pode ser interpretada como o momento vivido pelo autor, ou talvez como aquilo que ele tinha na cabeça numa fase em que estava a tentar intelectualizar a o seu dia-a-dia, aquilo que era a sua vida.
A interpretação varia de pessoa para pessoa, por isso, é muito difícil entender aquilo que realmente o pintor sentia e queria transmitir. Mas a arte é mesmo assim. Um desafio!

Catalin Vasile Cicau

Solidão


Amadeu de Souza-Cardoso
Este quadro, para mim, retrata um dos problemas que muitas pessoas, tanto em Portugal, como em todo o mundo têm vindo a enfrentar: a solidão em comum, indiferença, marginalidade! As imagens suscitam, em mim, sentimentos de tristeza, pena e revolta, uma vez que, como é sabido, existem muitos, neste país, que vivem na pobreza e nada podem fazer para sair dela. Estão na vida sem nada nem ninguém. Ao olhar este quando, o que me entristece é o não poder fazer nada para ajudar certas pessoas que de tanto precisam; ver que ninguém se esforça para diminuir este tipo de casos espalhados por todo o mundo, o que é realmente frustrante. Assim, foi a solidão a primeira palavra que me ocorreu, porque nota-se um vazio neste quadro, pelas cores que este apresenta e pela “situação” vivenciada por cada pessoa aqui esboçada: homens bêbados, tristes, solitários, abandonados, viciados, submissos, degradados.


Diogo Dias; 12º C

Confusão 2

Amadeo Souza-Cardoso
Amadeu de Souza-Cardoso é um pintor expressionista. Neste quadro, ele pretende transmitir as mais variadíssimas sensações a todos aqueles que quiserem apreciar a sua arte.
Sem dúvida alguma que este quadro é abstracto, no entanto e se observarmos com atenção podemos encontrar determinados objectos que nos suscitam curiosidade e que nos fazem interrogar por que razão é que estão ali, uma vez que têm origem completamente diferente. Porém, na minha opinião, a carta do naipe de paus e parte do corpo de uma mulher, nomeadamente os seios, a perna e a nádega direita, pretendem transmitir a ideia da prática de actividades ilícitas naquela época (1917), tais como o jogo e a prostituição.
As flores que estão pintadas ao centro do quadro, especialmente as rosas, são o símbolo do amor, da paixão, contrastando, assim com os restantes elementos já mencionados. O gafanhoto e a borboleta, discretamente pintados neste quadro, simbolizam a presença da natureza, juntamente com as flores. No canto superior direito, encontra-se parte de uma janela, dando-nos a sensação de que é possível ver o que está dentro do quadro. No entanto, no canto superior esquerdo, o pintor recorreu à expressão plástica, colando pedaços de espelho na própria tela. Através destes, podemos ver a nossa imagem, transmitindo-nos a ideia de que estamos dentro do quadro, no meio da confusão.
Assim, podemos concluir que os objectos que se encontram neste quadro têm um significado próprio, por mais obscenos que nos pareçam à primeira visita. A junção de diversos elementos de natureza diferente pode resultar numa desordem, mas o pintor Amadeu de Souza-Cardoso não os pintou por acaso. Deste modo, deixou que cada “leitor” retirasse da sua obra de arte a interpretação que bem entendesse.

Patrícia Pereira; 12ºC

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Buraco da Fechadura

Amadeo de Souza-Cardoso, Trou de la Serrure

O título do quadro é “Trou de la Serrure”, que significa “o buraco da fechadura”, fechadura essa que fechará a porta que nos leva até ao nosso intelecto. Ao espreitar pelo orifício, é possível ver uma explosão de ideias, conceitos, formas ou cores que constituem o nosso imaginário. O quadro expressa isso mesmo, o que está dentro e o que constitui a nossa mente.
É possível identificar certos elementos que pairam sob as linhas e as cores, como o jarro onde descansa uma rosa encarnada, o morango sobre fundo branco ou a quarta de água. No centro, encontramos uma figura que se destaca. Um instrumento musical que emite uma melodia tanto suave como agreste que é símbolo máximo da música: o violino. Uma das suas metades funde-se com os outros elementos da tela, desvanecendo-se em cores claras.
A música é uma forma de arte valiosa e que tem importante destaque na construção do ser humano. A música faz-nos pensar, faz-nos sonhar, faz-nos sorrir, faz-nos sentir. O brotar dos nossos sentimentos é desencadeado, sobretudo, pelas melodias que entram nos nossos ouvidos e que nos percorrem as veias sanguíneas, tal como o ar que respiramos. Assim, sugere este quadro.

Beatriz Madeira, 12ºC

Monet: Impressão Sol Nascente, 1872

O quadro pintado por Monet é tudo menos nítido: as figuras estão distorcidas, as formas baralham-se. Parece não haver uma linha que separe o real do imaginário. Pela incerteza no traçado, alguns afirmarão, então, que esta obra nada nos pode dizer sobre o que estava perante os olhos do nosso pintor.
Mas será que uma obra de arte, seja ela qual for, tem de nos revelar uma figura ou uma imagem real? A resposta que encontro quando olho para o quadro é um gigantesco não. Esta obra não nos apresenta quaisquer figuras ou imagens, definidas claramente, mas apela à minha imaginação: faz-me tentar visualizar o que estava na imaginação do poeta, leva-me a reflectir sobre o poder da cor, conduz-me a que me deixe levar pelo traçado do pintor.
A tranquilidade impressa no quadro é, para mim, indescritível; quando olho para este quadro, sinto-me numa esplanada virada para o mar em Veneza… ou será em Amesterdão? O importante não é o local, mas sim o sentimento. Quererá, quem me lê, juntar-se a mim? Ou será que a imagem criada na sua cabeça quando observa e, de seguida, fecha os olhos, não tem nada a ver com o que descrevi?
Na minha opinião, é nesta incerteza que reside a definição de arte; ninguém mais pode, para além do próprio artista, expor, numa simples tela, que seria branca antes de ser pintada, aquilo que o seu interior lhe transmite. Um momento de inspiração, um momento de descontracção… O facto é que Monet produziu algo maravilhoso, algo a admirar por todos.
Ser artista é para quem pode, é um dom. Se vem da mãe ou do pai? Se do Pai Divino ou da Mãe Natureza? A isso não sei responder, mas decerto que venha de onde vier, um quadro como este suscitou hoje uma reflexão, e de outras mais será merecedor certamente!

Francisco Almeida; 12º C

Quem?

Lourdes Castro 1930
Sombra Projectada de Christa Maar, 1968



Quem é quem? Não sei se é homem ou mulher, mas pela cor, faz lembrar o feminino. Não sei se tem cabelo comprido ou curto. Se é criança ou idosa. Não sei se gosta de música e de filmes. Ou se prefere jogar às cartas ou ao dominó. Apenas conheço os traços que delineiam o seu rosto, e parte do seu corpo. É o amor quem os reconhece! Quando é verdadeiro, não precisamos de ver a outra pessoa.Conhecemos os traços até ao mais ínfimo pormenor. É como se fosse um amor cego, onde não existem expressões.É uma perda de identidade, para com o outro! Talvez seja um retrato de alguém que pousa para o marido, a quem não, lhe interessasse as suas características físicas, apenas aquilo que existe até às linhas que delimitam a sua presença e, por isso, apenas mostrou que aquela pessoa estava ali, que existe. Ou talvez não. Pode ser meramente uma personagem que invadiu a mente do autor e que não lhe mostrasse realmente quem era. Pode ser uma personagem de um conto de fadas, um mero desconhecido ou, simplesmente, o esboço da perfeição, sem identidade. Tal como no quadro, o amor reconhece cada traço, que demonstra a presença da outra metade. Esteja esta longe ou perto, esses traços são processados no coração e reflectidos no cérebro, nunca deixando de o ser.


Patrícia Santos; 12º C
Composição surrealista, Cândido Costa Pinto, 1962

Este quadro captou, de imediato, a minha atenção. Ao início, não entendi bem porquê. Olhando com mais atenção, lembrou-me o mar, as algas, os corais… Dá-me a ideia de movimento, de vivacidade.
Mar, para mim, significa calma e, ao mesmo tempo, liberdade. Há dias em que está calmo, sem ondas, é dominado por um silêncio tão imenso como a sua extensão. Depois, há outros dias em que está violento, em que corre livre e as ondas marcam o ritmo da vida e o passar do tempo. Tal como o mar, também nós temos dias calmos e dias agitados, dias alegres e dias tristes. Isto é o que me sugerem as cores desta obra de arte; as mais claras lembram-me a leveza e a felicidade dos dias bons, as mais escuras lembram-me a tristeza, o peso e a carga negativa dos dias maus.
Como disse, mar é para mim sinónimo de liberdade. Mas sempre que buscamos a liberdade, existem barreiras e prisões que, de algum modo, nos são impostas. Nesta imagem, observo o que me parece ser um pedaço de rede e é essa rede que representa, na minha opinião, as privações a que estamos sujeitos (ou a que nos tentam sujeitar!) ao longo de toda a nossa vida.
A chave está em desfazer essas redes, fio a fio, até conseguirmos ser livres e ter o nosso próprio ritmo, sermos o nosso próprio mar.


Ana Lúcia Sobral; 12ºC