sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

História em redor de um quadro


Certo dia, em pleno século XX, decidi passar uma tarde sentado num café e apenas observar. Na universidade, inscrevi-me na cadeira de História. Estava a estudar a arte e cultura e, por isso, segui o conselho do professor para que observássemos a nossa sociedade.
Sentei-me a um canto e observei. Numa mesa, uma mulher escrevia e escrevia sem parar e, o que despertou o bichinho curioso que há em mim. Contudo, resisti em perguntar-lhe o que escrevia e continuei a observá-la.
Ao lado, estava um casal, na casa dos 45, 50 anos; estes discutiam literatura e falavam de uma revista “Orpheu” que um homem um pouco mais atrás lia sem levantar os olhos do papel. Questionei-me sobre o que trataria essa revista de que já tinha ouvido falar, mas nunca a li. Fiquei curioso.
Ao lado direito desse homem, estava outro senhor, de bigode e bem arranjado. Este escrevia, tal como a mulher que estava à minha frente. Pensei, “mas que raios, todos escrevem e lêem neste sítio?!” Mantive-me no meu lugar e volvi o olhar para a mesa do lado. Aí, encontrava-se uma mulher que incontroladamente fitava o homem sentado à sua frente com a mulher. Estes trocavam olhares sem que a mulher se apercebesse. Fiquei em choque.
Ao fundo, via dois homens sentados a fumar e a discutir. Economia e literatura eram os assuntos daquela mesa, até que um deles, exaltado, diz alto: ”Oh, Fernando!” O café parou, todos olharam para eles que rapidamente se desculparam.
Atrás de uma coluna, uma mulher espreitava. Tentando perceber para onde ela olhava, reparei que estava de olhos fitados na mesa dos dois homens que há pouco discutiam. Seria amante, mulher, curiosa?
Enfim, conclui que aquele sítio era um pouco estranho. As conversas eram sobre o mesmo, o passatempo era para todos o mesmo...
Falei com o meu professor e quando lhe descrevi o sítio ele riu-se e disse-me:
- Pois, esse café é um género de ponto de encontro entre todos os que estão ligados à arte e à literatura. Muito provavelmente esse Fernando que ouviste chamar era o Fernando Pessoa! Talvez o Almada Negreiro estivesse com ele ou até mesmo a sua namorada, a Ofélia Queiroz, quem sabe?
Não quis acreditar. Estive tão perto de todos os artistas mais revolucionários e conhecidos da época e contive a minha curiosidade. Não quis acreditar!


Mariana Carvalho; 12ºD

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