segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Orquestra com morango

Amadeo de Souza-Cardoso

Ontem, dia do meu 18º aniversário, entrei numa grande aventura para me despedir da minha infância, não perdida, mas finalmente terminada. Sim, agora sou adulta, sou livre e farei tudo o que me apetecer. E foi este pensamento que me levou até Paris, a grande cidade-luz, para ver um concerto de música clássica de que nunca pensei vir a gostar.
Tudo começou com provocações por parte do meu progenitor, que eu,” sua filha, era uma rebelde, uma ignorante sem cultura, sem noção das coisas do mundo”, aquele mundo que o envolve mas não me envolve a mim, nem é o meu. Certo é que me meti num comboio, rodeada de pessoas estranhas, acompanhada pelos meus botões e, claro, por uma grande amiga, pois não me aventuraria sozinha, não me atrevia a tanto. É que eu também sinto aquele sintoma horrível da adrenalina e do desafio, o medo, como uma pessoa completamente normal que não sou.
O concerto teve a duração exacta de duas incríveis horas. Para mim, tudo aquilo foi estranho. Digo-te que gostei e nem sei por que raio me atrevo a dizer-te que gostei de tal coisa, mas de facto gostei, talvez por ser diferente, talvez por saber que, afinal estou à altura dos desafios do meu pai e que sou muito melhor do que ele pensa. Não sei! Mas sei bem do que sou capaz e agora sinto-me orgulhosa de mim própria. Assim que acabar esta viagem cansativa de regresso, assim que sair desta caixa que desliza numa espécie de corrimão terrestre, não hesitarei em mostrar-lhe as provas e os testemunhos da minha aventura. Tenho a certeza que o meu pai ficará de certa forma orgulhoso de mim e mudará a sua opinião. Então, ver-me-á finalmente como a sua filha adulta e culta. Uma mulher de dezoito anos que até gosta de música clássica, de morangos bem maduros a assomar por entre a orquestra.



Catarina Sabino; 12º C

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