terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Anjo

Helena Almeida, Tela Habitada 1977

Sempre o mesmo local, sempre à mesma hora, sempre a mesma visão. Um anjo? Não o sei. Talvez fosse apenas um espectro de luz. Fosse o que fosse, gostava de a observar…
Pura, por ali deambulava, frágil, tão frágil, que sempre imaginei que se lhe tocasse, desfazer-se-ia em mil borboletas, alvas como ela. Deambulava e cumprimentava as nuvens e sorria ao vento, e à chuva, quando a havia, falava com doçura.
Nunca soube quem ela era, alguns diziam-na louca, outros que era uma criança aprisionada num corpo de mulher, talvez. Mas, para mim, ela era simplesmente sonhadora, uma alma refém do seu próprio mundo; incompreendida pelos demais; o reflexo da perfeição. E ela lá estava, dia após dia, e eu, sentado num banco, observava-a, estudando todos os seus movimentos, desenhando todos os traços do seu rosto na minha mente, onde, sem me aperceber, ficariam gravados para sempre.
Nunca soube, e ainda agora não sei dizer que emoção me tomava quando a via, e mesmo que tentasse não conseguiria defini-la, mas nesses momentos sentia-me bem. E essa sensação esteve presente na minha vida ao longo de vários anos. Todos os dias, me dirigia àquele lugar mágico, onde a magia tinha forma humana.
Até que um dia, ela não apareceu.
Esperei minutos, horas… nada. Voltei no dia seguinte, e no outro e no outro, mas dela nem sinal. Não perdia, porém, a esperança de tornar a vê-la; tentei procurá-la, mas não sabia onde ou como. Perguntei, então, a amigos e conhecidos se sabiam do seu paradeiro.
Vim a saber uma semana mais tarde que o meu anjo subira ao Céu.

Margarida Andrade; 12º D

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