sábado, 17 de abril de 2010

Estilhaços

Abro janelas que estilhaçam o espírito. Obrigam-me a correr com o gato vizinho, a doença consome o que lhe resta da memória. No vasto céu, estala a guerra armada de cores; o meu corpo treme nostálgico contra as suas formas afiadas. Não é seguro aqui, um ser cai e logo a terra desvairada engole outro. Oiço repetida esta realidade paralela. Voo para longe dos enganos do mundo, mas a criatura cega troca as asas pela clausura, outra vida ignóbil. Jaz ali com os seus olhos de vidro. Bem-vindos à insipiência. Humanidade artificial, de rosto deformado; entorpecidos por quimeras, eles rejeitam o que são por ti. Humanidade fraudulenta compositora de vícios, caçam almas errantes e anseiam pela minha. O elemento puro aguarda-me num recanto onde a sordidez não mancha. Mergulho no aroma a transparência, escorre-me pelos dedos a maresia e incessantemente admiro o reflexo na água. O espelho parte-se e os monstros adormecem.

Sara Batista; 11ºD

1 comentário:

Jelicopedres disse...

Lindíssimo este teu texto, Sara!
Adorei a tua forma de escrever.
Estilhaços estes que, reunidos, continuarão a reflectir a tua imagem, num espelho estilhaçado ou mesmo num reflexo de àgua...!Continua a escrever.
Parabéns!

(de vez em quando, venho ler os vossos textos, hoje, não pude deixar de comentar)