sábado, 17 de abril de 2010

Sonho Desfeito

Os olhos pesam-me. Bocejo uma vez e, com o cotovelo apoiado na secretária, descanso a cabeça na mão. Bocejo novamente. Fecho os olhos por instantes tentando, porém, não entrar no maravilhoso mundo de cores para o qual vou sendo, pouco a pouco, arrastada.
“Resiste, estás a ouvir?”, diz uma vozinha distante, mas persistente, vinda de parte incerta da minha mente.
É escusado. Os gritinhos tornam-se simples sussurros, à medida que, à minha volta tudo, fica escuro. Mil e uma imagens passam-me à frente à velocidade da luz, ao ponto de não conseguir distinguir um lugar, uma pessoa… De repente, encontro-me no centro de um tornado de ideias, sensações, imagens, canções, vida! Tudo gira à minha volta, tão real e intenso… Sinto-me tonta, perco a orientação. Os sons multiplicam-se. As cores, cada vez mais garridas, parecem prontas a devorar-me. E quando sinto que o fim se aproxima, oiço algo; um grito, uma voz, não aquela vozinha que ouvi antes, mas uma voz grave e intensa que se sobrepõe a todo aquele ruído. Uma única frase é tudo o que diz. Repete-a uma, outra e outra vez, num ritmo rigoroso e melódico, quase numa lenga-lenga. Aquela frase. A frase que sempre desejei ouvir. A frase que mais me assusta ouvir. Saboreio cada palavra, cada sílaba e a alegria e o receio tomam partes iguais na minha alma.
O tornado cessa, agora, o movimento giratório, as imagens desvanecem-se, os sons extinguem-se. A voz perdura.
Respiro fundo e, de repente o receio desaparece. Sinto-me apenas feliz. Olho em volta. Encontro-me num longo corredor de gelo e prata. Começo a percorrê-lo. Parece infinito. Corro, então. Desejo saber onde me levará. Corro, corro sem me cançar e quando, à beira de perder a esperança de chegar a algum lugar, abrando o ritmo, avisto-o.
A poucos metros, diante de mim, ele encontra-se de pé, atrás de um portão de cristal e diamantes. Sorri-me docemente, como apenas ele o sabe fazer. Aproximo-me lentamente. O portão desvanece-se, sabendo da minha intenção. Olho para ele, que continua a sorrir, irradiando uma luz reconfortante, dentro daquele fato branco que o torna ainda mais formoso. Olha-me profundamente e estende-me a sua mão. Com os olhos húmidos, estendo-lhe a minha. Os nossos dedos tocam-se por breves instantes, consigo sentir o calor da sua pele. O tempo pára. Olho-o apaixonadamente nos olhos, desejando que este momento seja eterno. Mas lágrimas ardentes correm-me pelo rosto à medida que o vejo desaparecer gradualmente. Tento desesperadamente abraçá-lo, agarrá-lo… Em vão. Consigo ainda ver um último vestígio do seu sorriso, antes de a sua imagem se desvanecer por completo.
A minha boca abre-se soltando um grito mudo. Com as pernas a tremer, deixo-me cair de joelhos enquanto choro amargamente. Relembro os seus olhos doces e o seu sorriso terno emoldurado pela barba ainda por fazer e o meu coração chora comigo.
À minha volta, a escuridão predomina, sinto-me distante, como se de alguma forma, já não estivesse ali. Sinto, agora, a cabeça muito leve. Mexo-me um pouco. Abro os olhos a custo e esfrego-os de modo a dissolver a névoa. Bocejo. Agarro no lápis, pousado sobe uma folha de papel, e escrevo…



Margarida Andrade; 11ºD

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