domingo, 11 de abril de 2010

O Rapaz

Ela queria tanta coisa… Sempre tinha sido assim. Ela queria conhecer os limites, para os ultrapassar. Queria aprender as regras, para as poder quebrar. Queria saber o que era certo, para ter a possibilidade de fazer o que era errado. Ao mesmo tempo, o desconhecido era o seu maior fascínio. Tinha sonhos, muitos sonhos. Uns mais possíveis, outros menos. Uns mais loucos, outros mais sãos. Uns antigos, outros muito recentes. Pretendia correr o mundo e guardar um pedaço de cada lugar. Fixava o céu como ninguém. Não gostava de olhar as coisas, preferia observá-las. Tinha o brilho, a vida, a energia e a força.
Depois apareceste tu, meu rapaz. Quer dizer, foste aparecendo! Aos poucos, devagarinho. À medida que tu aparecias, ela transformava-se. Começou a deixar de lado os sonhos mais loucos, deixou de sonhar tanto. Agora, já não tinha tempo para tal. A vida dela começava a girar em torno de outra coisa que não a imaginação. O brilho dela ia aumentando e ganhando outros traços. Tu foste marcando a tua posição, foste criando nela recordações. Ela era jovem, diziam que ela ainda não sabia nada da vida e que não tinha juízo. Sabes o que é que ela achava? Ela achava que devia estar contigo. Ela acreditava que, se tinhas entrado na vida dela, depois de ela te conhecer e te ver há algum tempo, alguma razão existia.
Foram-se conhecendo, tu foste-lhe agradando mais e mais, ela foi-se afeiçoando a ti. A certa altura, ela apercebeu-se de que não era “a tua miúda”. Apercebeu-se de que havia outra, uma qualquer que lhe tinha roubado quem ela julgava pertencer-lhe. Tinham-te tirado dela. E foi exactamente aí, nesse preciso momento, que ela perdeu a força, o brilho, a vida e tudo o que ela era. Podia jurar que tinha sentido o coração apertado a separar-se do resto do corpo, que tinha morrido por uma fracção de segundo e voltado à vida com um espírito que não era o dela. Sentia-se a desmoronar por dentro, ficava ainda pior quando fazia uma retrospectiva e via o que era “antes de ti”.
Mas ela nunca deixou que te apercebesses disso. Sempre manteve a aparência forte; travava lutas internas para tentar manter tudo como era antes, como era no início. Sofria ao ver que estavas com outra; pior, ao ver que estavas feliz com outra! Sentia-se pequenina, tal como uma formiga, quando tu lhe falavas na outra, quando lhe davas a entender as coisas que ela mais temia ouvir. Logo a seguir, lembrava-la do quanto gostavas dela e do quanto ela era importante para ti. Quando se despediam e viravam costas um ao outro, ela cerrava os punhos e amaldiçoava-te falsamente. A seguir, chorava, lamentava-se, perguntava a si própria o que tinha de errado ou o que tinha feito mal, em que é que tinha falhado durante aqueles meses.
Quando se cansou de sofrer, não encontrou nenhuma solução, excepto afastar-se radicalmente de ti, de modo a pôr fim à vossa relação. Eu sei que tu nunca entendeste o porquê de ela te ter passado a tratar como se fosses um desconhecido. Mas ela não era capaz de to dizer. Como é que ela te podia dizer que quem devia estar contigo era ela e que a fazias sofrer ao estar com outra? Simplesmente, não podia. Não era justo para ti. Tinhas os teus sentimentos, tinhas feito a tua escolha. Ela fazia parte da tua vida, mas não como queria. Foi por isso que ela se afastou. Mas custou-lhe, e muito. Aquela mudança sempre foi pior para ela do que para ti. Mas com o tempo, a ferida dela foi sarando e ela foi ultrapassando o facto de ter saído da tua vida. Voltou a ter os seus sonhos, voltou a ter o brilho e a vida!... Mas as coisas já não eram como dantes.
Lembraste dela? Conheces esta história? Sabes, rapaz, esta rapariga de que eu te falei, dizias que era muito importante para ti. Tu considerava-la… a tua melhor amiga.


Ana Lúcia Sobral; 11ºC

Sem comentários: