Muitas são as memórias que retenho da minha infância, que me fazem sorrir ou chorar quando fecho os olhos e abro o meu precioso baú das recordações. No entanto, sem dúvida alguma, que as que surgem com um maior destaque são aquelas que incluem as visitas aos meus avós.O meu pequeno cachorro corria à nossa frente, farejando incessantemente. Eu caminhava ao lado do meu avô em direcção ao gado. Umas flores amarelas já minhas conhecidas surgiam à minha frente e acabava sempre por ceder ao impulso de as colher. Já levava um molho bem grande quando dei conta. “Metade para a avó, metade para a mãe”, lembro-me de pensar.
O meu avô assobiou e a cadela pastora apressou-se a juntar algumas vacas que se afastavam e voltou para junto dele. Sentámo-nos numa valeta seca e o meu avô recostou-se para trás, tirando a boina e colocando-a sobre os olhos a tapar o sol. Recostei-me também e fiquei a observar as nuvens que formavam formas no céu.
Nós não falávamos muito. Na verdade, julgo que não tivéssemos muito a dizer um ao outro. Ainda assim, eu sabia que ele me amava. Sempre pronto a defender-me fosse qual fosse o disparate que eu fizesse e diga-se de passagem que eu fazia muitos. Sempre a ajudar-me a realizar qualquer objectivo. A colocar-me os gatinhos nos braços quando eu queria brincar com eles. A erguer-me quando queria dar palha a uma das suas vacas e não tinha nem altura para chegar à manjedoura. O meu avô era assim, simples. Não ligava a política, nem a futebol, mas sabia tudo e mais alguma coisa sobre agricultura e sobre as dificuldades da vida. Quando lhe falavam em crise lembro-me vivamente dele sorrir e responder com sabedoria: “Não falem do que não sabem, porque nunca estivemos tão bem como agora.”.
Dei por mim a soltar uma pequena gargalhada e a mirá-lo com a boina ainda na cara. Levantei-me, sacudi a terra das calças e disse adeus ao meu avô.
Corri até à minha avó que me esperava com um alguidar de água nas mãos e acompanhei-a até casa. Pousou o alguidar em cima da mesa e começou a descascar batatas.
Fui buscar o meu pequeno tacho, que havia anos ela me tinha comprado e estendi a mão à espera da primeira batata. A minha avó passou-me uma pequena batata e cortei-a para o tacho. Era assim a minha brincadeira de faz de conta, e, embora, agora pareça uma parvoíce, naquela época eu deliciava-me a cortar legumes para dentro dum tacho e a mexê-los como se estivesse realmente a cozinhar.
Quando me recordo da minha infância, dou-me conta que passou rápido. A minha infância desapareceu e, depois os meus avós seguiram-lhe o rasto. Mas as memórias ficaram e essas jamais se poderão perder.
Joana Costa; 10º B
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