sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Quando eu era menina...

Muitas são as memórias que retenho da minha infância, que me fazem sorrir ou chorar quando fecho os olhos e abro o meu precioso baú das recordações. No entanto, sem dúvida alguma, que as que surgem com um maior destaque são aquelas que incluem as visitas aos meus avós.
O meu pequeno cachorro corria à nossa frente, farejando incessantemente. Eu caminhava ao lado do meu avô em direcção ao gado. Umas flores amarelas já minhas conhecidas surgiam à minha frente e acabava sempre por ceder ao impulso de as colher. Já levava um molho bem grande quando dei conta. “Metade para a avó, metade para a mãe”, lembro-me de pensar.
O meu avô assobiou e a cadela pastora apressou-se a juntar algumas vacas que se afastavam e voltou para junto dele. Sentámo-nos numa valeta seca e o meu avô recostou-se para trás, tirando a boina e colocando-a sobre os olhos a tapar o sol. Recostei-me também e fiquei a observar as nuvens que formavam formas no céu.
Nós não falávamos muito. Na verdade, julgo que não tivéssemos muito a dizer um ao outro. Ainda assim, eu sabia que ele me amava. Sempre pronto a defender-me fosse qual fosse o disparate que eu fizesse e diga-se de passagem que eu fazia muitos. Sempre a ajudar-me a realizar qualquer objectivo. A colocar-me os gatinhos nos braços quando eu queria brincar com eles. A erguer-me quando queria dar palha a uma das suas vacas e não tinha nem altura para chegar à manjedoura. O meu avô era assim, simples. Não ligava a política, nem a futebol, mas sabia tudo e mais alguma coisa sobre agricultura e sobre as dificuldades da vida. Quando lhe falavam em crise lembro-me vivamente dele sorrir e responder com sabedoria: “Não falem do que não sabem, porque nunca estivemos tão bem como agora.”.
Dei por mim a soltar uma pequena gargalhada e a mirá-lo com a boina ainda na cara. Levantei-me, sacudi a terra das calças e disse adeus ao meu avô.
Corri até à minha avó que me esperava com um alguidar de água nas mãos e acompanhei-a até casa. Pousou o alguidar em cima da mesa e começou a descascar batatas.
Fui buscar o meu pequeno tacho, que havia anos ela me tinha comprado e estendi a mão à espera da primeira batata. A minha avó passou-me uma pequena batata e cortei-a para o tacho. Era assim a minha brincadeira de faz de conta, e, embora, agora pareça uma parvoíce, naquela época eu deliciava-me a cortar legumes para dentro dum tacho e a mexê-los como se estivesse realmente a cozinhar.
Quando me recordo da minha infância, dou-me conta que passou rápido. A minha infância desapareceu e, depois os meus avós seguiram-lhe o rasto. Mas as memórias ficaram e essas jamais se poderão perder.


Joana Costa; 10º B

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